Crônicas
Prefácio
2022-08-22 05:58:11

Por Ziraldo Alves Pinto

O Wilson Márcio Depes é o seguinte: um sujeito raro. Fico me lembrando dos tempos do Flávio Cavalcanti. Ele tinha aquela coisa de falar em pessoas fora de série. Ora, isto é uma coisa que significava um elogio para uns poucos, mas era um desrespeito para muitos (ou todos). Os seres humanos não são feitos em série, cada um de nós é um universo imenso, um ser especial e único.

Sujeito fora de série é fruto de um jeito de ver o mundo que não inclui uma coisa chamada amor ao próximo. Essa coisa, aliás, é um termo muito gasto, está sempre presente em discursos falsos. Aí, fiquei procurando um jeito novo para apresentar o Wilson Márcio aos seus conhecidos leitores, falar de uma coisa que não tinha nome até o Carlos Drummond de Andrade inventar um nome pra ela. Um verbo. O Carlos Drummond inventou. Por coincidência – não sei se o Wilson descobriu esse verbo numa crônica do Drummond – posso afirmar a vocês que ele, o Wilson, é doido com o Drummond, vocês sabem, essa mania inexplicável que capixaba tem de gostar de mineiro.

Mas, eu estava dizendo: o Drummond inventou o verbo outrar. Que beleza, sô! Uma forma nova de dizer o velho, que já devíamos ter aprendido e que está no começo mesmo das propostas de um rapaz – morreu com trinta e três anos – cujo pensamento e palavras mudaram a história do mundo. Na maioria das vezes, é certo, o que ele disse, entrou por um ouvido e saiu pelo outro, aí estão as bombas matando até turcos, tadinhos, que não têm nada com isso. Ah, sim, a lição do Cristo que São Paulo divulgou era aquela: amai-vos uns aos outros. Tão simples. Só que ninguém sabia o que poderia ser amar o outro. Seria passar a mão na cabeça? Dar beijinho? Falar meu benzinho, que saudade? Guardar para si e não deixar ninguém nem chegar perto? Né, não. Amar o próximo é outrar, é ser capaz de entender a dor do outro como se ela fosse sua; respeitar sua dúvida por sabê-lo tão frágil quanto você mesmo; saber que as razões do outro podem ser tão poderosas quanto as razões que você acha que tem; respeitar no outro o que você quer que respeitem em você; fazer pelo outro o que você gostaria que fizessem por você; saber que o outro não nasceu em série e que é tão complicado quanto você e, por isto, deve ser olhado com afeto e paciência.

Outrar é, enfim, se por no lugar do outro sem deixar de ser você e sem precisar ser o outro.
Como o Wilson Márcio tem feito ao longo de sua vida.

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