Wilson Márcio Depes

O conselho editorial desta revista não se intromete em assuntos político-partidários. Mas, no caso do julgamento do Lula, o fatídico 24 de janeiro marcará a História do Brasil. Pode ser que se feche um ciclo de Lula e do PT. Mas se abra outro. Ou ainda que Lula consiga furar o bloqueio e registrar sua candidatura à presidência da República. Absolutamente não se pode olhar o tema com preconceito e paixão ou simplicidade. Não se trata de um time de futebol ou vários times onde torcedores se engalfinham. Estamos exatamente no mesmo barco. O assunto envolve o futuro do país e dos brasileiros. O contexto não é só: Lula é corrupto ou não. Fez-se justiça ou não. O tema envolve a nossa História, a História do país e seus desdobramentos. Olhando friamente o assunto temos dois polos: o primeiro mostra, juridicamente, que Lula está condenado à prisão por ter cometido corrupção durante o seu governo. O segundo, a busca frenética pela candidatura dele à presidência com base no apoio das classes populares. Digamos, por exemplo, que Lula não consiga o registro de sua candidatura e lance outro candidato do PT e eleja o seu candidato, dramática ou eventualmente preso numa cela da cadeia. Ou ainda que ele percorra o país com um vice, certo da impugnação de sua candidatura, mas já fazendo propaganda eleitoral para este? Outro ciclo da história? Os brasileiros que soltaram foguetes com a condenação de Lula como agirão estrategicamente? Não estou aqui fazendo a defesa ou criticando quem quer que seja. Quero dizer, como sempre defendi, que a corrupção é um processo cultural, e combatê-la não passa de uma obrigação, parte considerável de um complexo de circunstâncias. Na dianteira das pesquisas é claro que o PT e Lula vão percorrer o Brasil, a partir de agora, sem assumir que sua candidatura será impugnada, mas trazendo do seu lado o candidato a vice-presidente que poderá substitui-lo. A campanha do PT já começou. E os adversários dos petistas e de Lula vão ter que encontrar um antídoto contra o voto. Mais uma vez esclareço: longe, muito longe de mim esboçar qualquer crítica à decisão judicial, faço apenas uma análise superficial e política.