Crônicas
O Perdão de Jô
2022-08-22 09:19:43

Wilson Márcio Depes

Muita confusão no cenário. Depois da comédia de tantos erros jurídicos no domingo, resolvi terminar de ler – e olha que me fez muito bem – o livro autobiográfico do Jô Soares, aliás, que prometera fazê-lo nas férias de final de ano. Interrompi, várias vezes, com outros livros que tinha deixado pra trás. Antes de falar do Gordo genial, quero confessar que andei meio preocupado esta semana. Conto. Um amigo meu, que considero um grande intelectual, disse-me com toda ênfase: “Machado de Assis é um chato”. Entrei em pânico. Meu Deus! Será que fui enganado todos esses anos, pois é um dos meus escritores preferidos. Li madrugada a dentro “Dom Casmurro” e “Memória Póstumas de Brás Cubas”. Depois disso, encerrei o papo: “meu amigo está com inveja”. Ponto. Volto ao Jô. Li um trecho de seu livro e divido com vocês. Conta ele: “Mamãe morreu atropelada, num dia de chuva terrível. O motorista do táxi não teve a menor culpa. Ela tinha 70 anos e eu, na época, tinha 30 anos. Ele socorreu minha mãe, levou para o hospital, fez tudo certo. Só que ela teve uma fratura de base de crânio, o coração continuou funcionando lindamente. Mas ela morreu”. Ao voltar de uma viagem, Jô pegou um táxi no Aeroporto Santos Dumont. No final do trajeto, o apresentador foi surpreendido com a revelação do motorista. “Dez anos depois do acidente, eu peguei um táxi no Santos Dumont e, quando cheguei em casa, ele falou: ‘Eu preciso dizer uma coisa para o senhor. Fui eu que atropelei sua mãe. E, desde esse dia, isso já faz dez anos, eu não consigo mais dormir. Só vou conseguir dormir no dia que eu ouvir o senhor dizer que me perdoa”. Jô respondeu: “Mas, meu filho, você está perdoado desde o dia que pegou a minha mãe, socorreu e ficou ao lado do meu pai até a minha mãe morrer. Você não teve culpa nenhuma. Eu te perdoo, você está mais que perdoado. Vai em paz.”. O apresentador ainda contou que o motorista chorou muito durante a conversa. “O perdão para mim é a coisa mais importante no cristianismo”, concluiu.

Crônica Revista Leia - Publicada em 14-07-2018

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