Crônicas
Um presente de Deus, à luz do amor...
2022-08-22 16:02:35

"Se a vida, a essa altura, quisesse me dar um presente, basta que desse um domingo de futebol, em Sumaré, inteirinho só de gols. Poderia ver um drible de Alcenir, depois de uma rápida jogada de corpo, para o lado esquerdo, encaixando a bola lá no ângulo. O estádio embandeirado, haveria de gritar cantando e pulando a glória de nosso maior artilheiro. Neste dia de lembranças – o que custa isso? – poderia ver o jogador Celso – curioso que ele jogava sorrindo – dominar a bola, no meio de campo, com a cabeça altiva, e fazer um longo lançamento e a bola cair certinha no pé de atacante. Gatinha, do Mundo das Tintas, estaria disparando sua canhota infalível, quase arrebentando a trave e a torcida vibrava até no Hospital Infantil, de onde a visão era privilegiada. Sarará Velho estaria contando uma piada, no pé do ouvido, de Jurandir, que, elegantemente, no meio de campo, estaria sorrindo, sem dar bola para a torcida. Jurandir, meu caro amigo, era elegante, mulato dos olhos claros e fazia sucesso com as mulheres. Agildo, da oficina mecânica do Parkin, guardou, até antes de morrer, há pouco tempo, um romance que Jurandir narrava todos seus casos amorosos da adolescência. Outro jogador que enchia meus olhos, nas tardes de domingo, era Sarara Novo, que jogava no Cachoeiro. Quantas vezes transformou minha tristeza em alegrias, com seu pé que me parecia torto, mas que batia na bola com precisão a ponto de o goleiro ir buscá-la no fundo das redes. Confesso, se eu soubesse que esse futebol fosse acabar, que os estádios iam se submeter a leilão, por um juiz sem alma, eu pediria a Deus que me emprestasse um par de olhos, um preto e branco, e o outro, vermelho e branco, só para que eu pudesse ver, à luz da saudade, todos os gols de um Cachoeiro x Estrela, em Sumaré, lá da década de 60. Seria pedir muito?

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