Crônicas
Todos na feijoada
2022-08-22 16:54:33

Não encontro uma pessoa – e o faço à distância – que não indague como será o amanhã após a pandemia. Esse, digamos, “novo normal”. O autor de “Bye Bye Brasil”, Cacá Diegues, reclama, com muita razão, que virou irresistível tentação intelectual pensar e prever como será o mundo depois da pandemia. A síndrome é genérica, se fala nisso nas palestras acadêmicas, mas também nos papos de bar ou em festas clandestinas dos que não temem a Covid-19. E é natural e justo que seja assim. De tanta decepção, a Humanidade anda viciada em futuro, não quer saber do passado, e o presente se tornou um assunto cafona, para quem não tem imaginação. Um assunto de pobres de espírito. Cada um avoca o direito de opinar. Será perda de tempo? Fico pensando.

Cacá, em “Bye Bye Brasil”, mostra, a bem dizer, valores carregados, extraídos de suas paisagens geográfica, social e afetiva. Possui rara beleza, não apenas por expor (no bom sentido) o sofrido povo tupiniquim, mas, sobretudo por fazê-lo graciosamente, tomado da incorrigível esperança dessa gente que, a despeito de todas as evidências, crê num sol capaz de nunca mais se pôr.

Quem fez um filme como esse, no finalzinho da ditadura, sabe o que está raciocinando. Segundo ele, o “novo normal”, de que tanto temos falado, talvez seja a descoberta do outro como indispensável à nossa sobrevivência, à nossa inevitável solidão. Descobrimos, nesse novo normal, a solidariedade como o amor sem sentimento de propriedade sobre o que é amado. E, isso, o capitalismo financeiro ou o socialismo participativo não são capazes de nos prover. Ou seja, não teremos lutas ideológicas que nos separe. Elas nos aproximarão.

Talvez, assim, possamos todos comemorar a estabilidade da pandemia, saboreando – eu disse todos – a feijoada da Leia. Solidariamente. "

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