Wilson Márcio Depes
Confesso, a essa altura, que fiquei muito tempo sem entender, sob o ponto de vista científico, as razões pelas quais nós, pobres mortais, reagimos de forma tão distinta quando das prisões e condenações na Operação Lava Jato. Busquei explicações na psiquiatria. A explicação mais plausível – pelo menos para mim – é que todos nós somos sempre vítimas de distorções cognitivas induzidas por nossas emoções e crenças. Diz o festejado Contardo Calligaris que enxergamos sobretudo o que confirma nossas próprias preconcepções o que se denomina “viés de confirmação”. Exemplo: uns se desesperaram considerando que Lula é vítima de um complô da classe dominante. Outros se regozijaram como se fosse a melhor terça feira de Carnaval da vida. Síntese: em geral, compensamos nossas frustrações odiando qualquer outro que alcance o que ele queria – é o viés do carniceiro: não somos toureiros e, por isso, assistimos a uma corrida de touros na esperança de que o toureiro seja encornado. Mas tem mais. Finalmente, o terceiro grupo, menos numeroso, menos barulhento, mas não festejou. As pessoas desse grupo ficaram triste, mas ficaram triste não propriamente por Lula, mas porque a prisão de Lula ou amanhã a de Aécio, para citar apenas dois, mostra o fracasso do Brasil. E historicamente mostra que a nossa colonização saqueadora e a invenção de um modo de produção escravocrata. E o exemplo é perfeito. Um empresário brasileiro preocupado com a importação (do Oriente) de produtos análogos mas muito superiores aos dele. Perguntei se não poderia modernizar, formar melhor sua mão de obra e competir. Ele disse que seria bem mais em conta distribuir dinheiro a políticos que instaurassem impostos de importação sobre produtos concorrentes. O exemplo do Contardo é perfeito. E, sem dúvida, vem daí nossa desilusão.