Wilson Márcio Depes
Quando editava o jornal O Momento, fazíamos uma coluna com o título: “O que eles disseram ... e nós comentamos”. O título, por si só, explica tudo. Lembrei disso porque, como já vimos, a Globo gosta de uma tragédia! O incêndio do prédio em São Paulo será repercutido, com ares de sadomasoquismo, durante um bom tempo. O jornalismo correto, penso eu, seria mostrar como é falha a política habitacional no país; falha não, desumana. Aliás, como sugerem os próprios colunistas do jornal da mesma editora, como, por exemplo, Bernardo Melo Franco, a tragédia de São Paulo deveria exigir um debate a sério sobre a carência de moradia digna no Brasil. O assunto é urgente, mas tem sido praticamente ignorado pelo poder público. O tema também parece muito distante da agenda dos principais candidatos que disputarão a Presidência. Estou informado que, em 2015, o déficit habitacional no país chegou a 6,35 milhões de lares, de acordo com a Fundação João Pinheiro. Na comparação com o ano anterior, o problema se agravou em 20 das 27 unidades da federação. É preciso esperar o próximo levantamento para se conhecer todo o estrago provocado pela recessão. Aliás, de estrago esse país está cheio. Os efeitos da crise econômica são terríveis. Basta andar pelas cidades para constatar o aumento da população de rua. Para não ficar ao relento, muitas famílias buscaram alojamento precário em favelas e cortiços. Outras engrossaram invasões de prédios abandonados. Era o caso do edifício que desabou no Largo do Paissandu, no centro da capital paulista. Fico imaginando a situação quando o frio já começa a aparecer. E mais, para concluir, ando com horror do submundo redes sociais. É uma desumanidade culpar as famílias pelo desabamento de ontem. Em que mundo estamos vivendo?