Wilson Márcio Depes
Vamos entrar num pequeno recesso aqui na Leia e também na advocacia. Acho até que merecido. O ano foi de muita luta e transformações. Lembro-me que os jornais e revistas faziam retrospectivas. A TV também. Mas eu rejeitava porque os fatos mais tristes tinham relevância. O espírito de Natal, apesar dos encontros e festejos, sempre me trouxe um ar de melancolia. Não sei a razão, mas lembrava sempre daquele verso do Fernando Pessoa: “No tempo em que festejavam o dia dos meus anos/ Eu era feliz e ninguém estava morto”. Mas, hoje, lembro-me, com tristeza suave, que minha mãe, neste período, conseguia reunir todos os familiares, e não deixava de presentear todos – aí incluía sua lavadeira, nossa secretária, todos os filhos delas -, sem esquecer de ninguém. E comprava tudo com suas economias. Era uma forma simbólica de carinho e amor para comemorar as festas natalinas. Sem qualquer ostentação ou exagero. No meu discurso de orador da turma de formandos de direito, o que ela mais gostou foi um trecho das profecias de Isaías: “Pois vou criar novos céus e uma nova terra. Os filhos de meu povo durarão tanto quanto as árvores. Já não morrerá ai nenhum menino, nem ancião que não haja completado seus dias. Nenhum mal será cometido em todo o meu nome santo”. Minha mãe era assim. Ah!, se ela pudesse, reunia todo mundo para assistir ao show de Roberto Carlos, que ela conheceu, em Cachoeiro, quando ele frequentava o Jardim de Infância, hoje Ciac. Nós moramos ali em frente, onde hoje é o Cartório. Pois bem, como vamos entrar em recesso, apesar de tudo, completamos mais uma volta em torno do Sol. Espero que esses dias de festas e reflexão possamos restabelecer nossa esperança e nos motive a transformar em realidade a dignidade, e todos os direitos humanos, especialmente o direito de existir e de ser sujeito de direitos. Um ano mais doce e mais luminoso para todos nós!
Crônica Revista Leia - publicada em 22/12/2018