A Festa de Cachoeiro era melhor no passado? Não acho, hoje temos atrações muito mais sofisticadas, não é? Hoje tem cachoeirense presente e ausente. Ontem Newton Braga queria só o ausente para que o cachoeirense voltasse a sua terra. Certo? Quem tem razão Moro ou The Intercept? Neymar ou Najila? Levy ou Bolsonaro? Ministro Guedes ou Rodrigo Maia? O Senado ou Bolsonaro com a derrubada dos decretos que flexibilizam a posse e porte de armas? Cada um que você perguntar tem a sua razão. Aliás, todo mundo tem razão em tudo. Você discorda de mim? Você tem razão. Um casal brigando, quem tem razão? Os dois. Conta-me um psiquiatra que um historiador subiu à Torre Eiffel com a intenção de escrever a história da humanidade. Logo em seguida, depois que se preparou, decidiu descer para saber que confusão era aquela lá embaixo. Dois carros haviam-se chocado. Ouviu um, ouviu outro, ao final, todo mundo tinha razão. Ninguém era culpado. Decidiu deixar de lado seu projeto de escrever a tão sonhada história. Não estou dizendo, com isso, que a razão é relativa. Em absoluto. Pelo contrário acho que ela é copiosa, abundante. Mas não é só isso. O escritor e psiquiatra austríaco Viktor Frankl insiste na tese de que o que provoca a insatisfação da humanidade é a falta de sentido para a existência. Já o pensador católico Tristão de Ataíde dizia que o passado não é o que passou. É o que ficou do que passou. Quem tem razão? Bem, mas aonde eu quero chegar com essa conversa toda? Os ares da festa me trazem uma delicada lembrança de um vendedor de algodão doce, que parava na esquina de minha casa, onde passei vinte anos de minha vida. Relembrei com ele toda minha doída saudade, no tempo em que a minha felicidade era só esta: devorar um algodão doce, sem deixar a rapa de açúcar para trás. Vendia garrafas, jornal velho só para obter o dinheiro para comprar minha felicidade. Ah, ele parava em frente à minha casa exatamente no dia 28 e só saía no dia 29. Com o seu carrinho vazio. Com ele ia embora minha felicidade. Com promessa de voltar no próximo ano. Ele, sim, o vendedor de algodão doce da Festa de Cachoeiro tinha razão...