Temos preguiça de sofrer
2022-08-22 16:05:15
Wilson Márcio Depes
Li outra dia uma crônica elucidativa do Sérgio Damião sobre o mês de setembro. E sobre a luta que se trava contra a depressão em todo o país, país não, em todo o mundo. Foi aí que me lembrei, também, de uma antiga crônica do Zuenir Ventura, famoso escritor e jornalista. Nela ele explica como fazia, nos momentos de angústia, para recobrar as forças e, por óbvio, não cair em depressão ou, se assim for melhor, em angústias que vão corroendo as nossas resistências. Vou contar. Quando precisava tomar uma injeção de ânimo, ia até a casa de Itaipava, onde moravam as irmãs Mily, de 86 anos; Guilhermina, de 84, Maria Elisa, de 76, e Maria Helena de 73, mais a cunhada Ítala, de 90, a prima Icléa de 90 e a amiga Jacy, de 78.
Elas passavam o fim de semana cuidando de plantas, lendo, jogando baralho, fazendo tricô, discutindo política, e, sobretudo, se divertindo. Segundo Zuenir, absolutamente não falavam e não deixavam falar de doença e infelicidade. Baixaria, nem pensar. Assim era o astral e a energia na “Casa das sete velhinhas”. O lema que predominava na “Casa das velhinhas”, aliás que gostaria muito de conhecer, era “Temos preguiça de sofrer”. Nessa coordenação de ideias, lembrei-me também do livro de Kafka, “Carta a meu pai”, em que ele diz que os dois motivos que levavam o ser humano ao sofrimento era a impaciência e a preguiça. De forma emocionante sentenciou que por impaciência o ser humano saiu do céu e por preguiça não volta para ele.
Claro que não ingressei na parte científica da depressão, assunto que não conheço e também não poderia falar com a propriedade do Sérgio. Quis apenas trazer exemplos de vida que, se não cuidam dela, servem, no mínimo, para suavizar as angústias que afetam todos nós num mundo tão estranho como o que vivemos. Claro que isso não acontece só em Itaipava. Alguém conhece uma “Casa das velhinhas” em Cachoeiro? Acho que poderíamos prestar um grande serviço uns aos outros se, conhecendo, divulgássemos. Não custa nada.