Wilson Márcio Depes

Confesso que não resisti à emoção de ver os quatro voluntários, com a cabeça raspada, sendo soltos, aos prantos, depois de uma prisão completamente arbitrária, ilegal, sem fundamento e sem qualquer culpa. Depois de humilhados, a polícia os prendeu porque combatiam incêndios. É preciso tomar muito cuidado com arbitrariedades de juiz, promotor e a polícia. Há poucos dias, numa sustentação oral no Tribunal de Justiça, pude lembrar o que consignou Umberto Eco: “Frequentemente os textos dizem mais do que o que seus autores pretendiam dizer, mas menos do que muitos leitores incontinentes gostariam que eles dissessem”. O importante, como disse Benjamin Nathan Cardoso, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, é que erraria o juiz que quisesse impor à comunidade, como norma de vida, suas próprias idiossincrasias de procedimento ou de crença. A aplicação do poder estatal para dizer o Direito toma a realidade como referência. Apesar dos aplausos do presidente da República pelas redes sociais, quando da prisão, o Ministério Público Federal desmantelou a armação ao dizer que não havia sequer um elemento que apontasse a participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil nas queimadas. Em seguida, como informa o jornalista Bernardo Mello Franco, soube-se que o juiz que decretou a prisão dos jovens pertence a uma família de madeireiros e já atacou uma ONG pelos jornais. Todo mundo sabe que as investigações, iniciadas em 2015, apontam grileiros e empresários do setor imobiliário como responsáveis pela degradação ambiental em Alter. Aliás, os personagens são os mesmos em todo o país. Não adianta tapar o sol com a peneira, a verdade sempre vem. Aliás, para disfarçar a comemoração com a prisão dos quatro inocentes, passou-se a acusar o ator Leonardo DiCaprio de financiar queimadas. Por certo, deve ter assinado o cheque, como disse Bernardo, na proa do Titanic. Cultiva-se, no país, o ovo da serpente.