Lembro-me bem. Foi num domingo, há mais de 130 dias. Mandei um whatsapp, com uma bela foto da Igreja Velha (é assim que chamávamos …). Não houve resposta. Eu sabia que o zelador da igreja municiava, por debaixo dos panos, uns cigarrinhos para o Sérgio, que fumava escondido do pai. Fiquei preocupado porque ele não deixava de responder um bilhete. Liguei e nada. Busquei informações com seu irmão, Ayltinho, que mora em Vitória, assim também como com a Lúcia. “Sérgio passou mal e foi internado no Copa D’or”. Não tinha dúvida: Covid. Me preocupei muito. Sei que ele é diabético e ex-fumante. De lá para cá, Ayltinho, que tem dois filhos médicos e moram em São Paulo, mandava uma cópia do boletim médico todos os dias. Não me esqueço: era do dr. Pantoja. Passei a conhecê-lo, sem nunca ter visto. Foi um martírio. Houve um dia em que o escritório de São Paulo, agoniado, alugou um jatinho e trouxe dois especialistas do Sírio Libanês para dar uma outra opinião sobre Sérgio. A situação era grave, mas eles foram enfáticos: “com essa vontade de viver tão grande, ele escapará desta”. Mas era pouco. Confesso, no meu coração… um vazio. Naquela época ele tinha 50 por cento de possibilidade de se recuperar. Liguei para Ayltinho porque o coração continuava apertado. Disse que iria lá na igreja velha onde dois padres amigos nossos estavam em vigília. Me aliviei um pouco. E os dias foram passando, mas o coração continuava angustiado. Nesses dias todos nós nos falamos. Não tinha sábado, domingo, feriado. Não havia um mantra positivo para combater os pensamentos dolorosos Não. Não havia. Até que veio a notícia: “Nosso irmão está se preparando para ir para casa!”. Até que, no dia do advogado, os irmãos, pai e família o receberam, em seu confortável apartamento da Ruy Barbosa, no Rio. Por certo, vejo hoje, o tempo perdido certamente não existirá. Aliás, depois daquele domingo, posso dizer que: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar”. E assim está sendo. Só hoje recebi a antiga mensagem de volta. A promessa que voltaremos à igreja velha. Sem cigarros. Para pagar a promessa.