Dizer que foi um ano perdido em nossas existências? Não, não foi. Não posso dizer que não estamos tristes, principalmente com a pandemia. Perdemos muitos amigos caros e queridos, tivemos uma enchente dramática em Cachoeiro, mas, sem dúvida, fomos obrigado a nos reinventar. Os feriados, sem dúvida, representaram, numa comparação tosca, um abrir de portas para a liberdade. Mas uma liberdade meio irresponsável, pois não sabemos as consequências de um unir e um abraçar sem horizonte, apesar do sol queimando nossa pele e trazendo o azul do mar. Sempre ele. Dentre minhas reflexões, curioso é que enquanto trabalhei em home office, apesar de trabalhar muito mais, uma culpa me perseguia: tinha que está no escritório, sob pena de carregar uma culpa. E o pior é que carregava. Andei remoendo o inconsciente e depois descobri que, para muitos, quando me deitava em casa, lendo um livro, ainda muito jovem, era considerado, digamos, um preguiçoso. Trabalhar, era sair de casa, pegar no pesado. Refletir, afinal, não era possível. Foi aí que, vasculhando o inconsciente, entendi como ele comanda, até hoje, a minha vida, sem que eu tenha conseguido me libertar desse, digamos, pecado fatal. Confirmei aquilo que sempre pensei mas tinha um certo pudor em falar: Freud foi um gênio. Descobriu aquilo que não se pega, que não existe materialmente, mas comanda nossas vidas: o inconsciente. Mas, digo, prometi pra mim mesmo que me livrarei dessa neurose antiga: vou ler o livro que me aprouver, sem culpa, aproveitar os feriados, sem ligar para “minhas próprias críticas”. Afinal, como queria Gabriel Garcia Márquez, “a vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver”. Ou, como queria Guimarães Rosa, “o correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza...