A ideia não é original. Mas, sem dúvida, é esclarecedora. Edson Braga, filho de Newton, explica todos os detalhes sobre a Festa de Cachoeiro. Achei fica melhor sob forma de entrevista. Aliás, entrevista aprovada por Raquel e Marília. Começo.
Leia: Como nasceu a ideia da Festa de Cachoeiro?
Edson: Esta adorável ideia nasceu como mais um sonho esquisito como tantos que brotam a toda hora na cabeça dos poetas. O poeta que teve essa ideia pela primeira vez foi Newton Braga, um jovem jornalista de Cachoeiro de Itapemirim. E no dia 11 de março de 1939, ele escrevia em O Livro, pequeno jornal de propaganda da Livraria e Papelaria L. Machado. “Volta-me à lembrança uma velha ideia que hei de ver coisa feita, um dia. É juntar aqui todos os cachoeirenses ausentes. Depende tudo de publicidade e organização. Tem poucas cidades no Brasil de um cabotinismo tão bom como de Cachoeiro. Você esbarra com um cachoeirense fora daqui, o bicho é todo saudade, é todo exaltação à cidadezinha distante. Não há, meu caro. Tô doido pra voltar pra lá”.
Leia: Explica melhor?
Edson: Meu pai dizia que a vontade velha dele era juntar esse povo todo, aqui. Faríamos, todo os anos o Dia de Cachoeiro. Passagens e hotéis com abatimento, grande programa de festas: cívicas, esportivas, musicais, intelectuais e dançantes. A cidade toda recebendo, festivamente os filhos distantes: a grande família reunida. Do terceiro ano em diante, a romaria já se processaria como tradição. Férias de serviços e economias seriam reservadas para a visita à terra natal nessa data. O jornal é pequeno para dizer o que caberia de bom na iniciativa. E nem é preciso dizer, tão bonita me parece ela, e tão eficiente, sob todo pontos de vista.
Leia: E quando ele colocou em prática?
Edson: Disse simplesmente: “Vamos realizá-la?”.
Leia: Mas não é difícil colocar sonhos de poeta em prática?
Edson: Muito. O curioso é que a ideia teve aprovação geral – inclusive do prefeito de Cachoeiro na época, Fernando de Abreu, que encarregou meu pai de organizar a festa. Pensara antes em realizá-la no dia 25 de março, data da criação da comarca. Porém, ponderações posteriores o convenceram a realizá-la no dia 29 de junho, dia dedicado a São Pedro. E fizeram mesmo. A festa foi um sucesso, atraindo milhares de visitantes. Os cachoeirenses ausentes voltaram para rever sua terra e sua gente. Tudo que o poeta previra aconteceu. A festa virou tradição, a cada ano levando uma multidão maior a Cachoeiro.
O poeta venceu. Diz Goethe que pensar é fácil, agir é difícil, e colocar os pensamentos em ação é a coisa mais difícil do mundo. Newton Braga conseguiu isso.