Juro que ia escrever sobre outro tema. Pensei, em princípio, falar sobre as Olimpíadas. Depois, no programa da Regina e da Marilene. Mas me deparei, nesta quarta-feira – dia em que escrevo a coluna –, com Bolsonaro todo sorridente abraçado com a deputada alemã Beatrix. Perdi o controle. Ora, afinal, presidente Jair Bolsonaro se encontrou, fora da agenda oficial, com a deputada alemã Beatrix von Storch, uma das lideranças do partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD) e neta de um ex-ministro das Finanças da Alemanha durante o regime nazista de Adolf Hitler. Não é pouca coisa. Não, não é. O encontro ocorreu no Palácio do Planalto, em Brasília, na última semana – quando a parlamentar também se encontrou com deputados bolsonaristas. Como não foi incluída na agenda, a reunião só se tornou pública quando Beatrix von Storch divulgou fotos com Bolsonaro. Que horror!!! Na postagem, a deputada agradeceu a recepção de Bolsonaro e se disse impressionada com a compreensão do presidente sobre problemas da Europa e os desafios políticos atuais. Von Storch defendeu a união dos conservadores para combater a ideologia dos grupos de esquerda. Procurado pela imprensa, o Palácio do Planalto não informou a pauta da reunião e o motivo de o compromisso não ter sido registrado na agenda de Bolsonaro. Criado em 2013, o AfD surgiu na Câmara dos Deputados em 2017 e é a principal força da oposição aos conservadores liderados pela chanceler Angela Merkel e os socialdemocratas no poder. O AfD foi colocado, em março deste ano, em vigilância policial por serviços de inteligência interna da Alemanha. O partido é contra a política migratória de Merkel. É preciso lembrar que em 2018, Von Storch protagonizou uma polêmica com a polícia de Colônia, na Alemanha, após a corporação publicar mensagem em redes sociais com alertas em alemão e árabe. A parlamentar questionou o uso da língua – as postagens dela foram deletadas pelo Twitter e pelo Facebook.
O sorriso do presidente demonstra satisfação em encontrar a deputada. Ora, ela ficou conhecida por afirmar, em 2016, que a polícia da fronteira tinha que atirar em refugiados que tentassem entrar no país. O partido dela vem perdendo prestígio por ser antivacina e alimentar a fantasmagoria contra a ciência, academia e imprensa, com forte base na difusão de mentiras revisionistas pelas redes sociais. Tudo isso é, no mínimo, muito preocupante...