São muitos assuntos atormentando as nossas cabeças. Resolvi dividir por partes. Vou usar uma velha diagramação (jargão jornalístico que nem sei se saiu de moda. Servirá para separar os temas). Vamos falar primeiro sobre o que poderíamos chamar de um rodízio de pressão (e ameaças) estabelecido pelo presidente da República. E isso se dá exatamente diante da possibilidade de derrota nas futuras eleições. Velha tática conhecida por quem viveu a ditadura militar de 64 e acompanhou o presidente Trump nos EUA. Em resumo: o que se pretende é intimidar as instituições e manter um clima de golpismo no ar. Que permite confusão e medo e abre um caminho para as forças golpistas caminharem.
A primeira reflexão é a de que o fato de o capitão apelar para bravatas não autoriza ninguém a subestimá-lo. Ele nunca escondeu seu sonho autoritário. Se pudesse, já teria fechado o regime completamente e mandado os opositores para muito longe daqui. Conheci sua atuação em Brasília. Eu diria que não mudou nada, pessoalmente. Aumentou os poderes. De deputado medíocre, baixo clero, chegou – não sei como – à presidência da República. Com a cumplicidade de alguns generais, ameaça todos os dias com um golpe. Tem a certeza de que não haverá impeachment no STF, mesmo assim alimenta suas redes criminosas.
Ora, o Senado absolutamente não quer brigar com a Corte. Ademais, os juízes absolutamente não podem ser punidos por agir com independência. Não quero dizer com isso que são uma casta, que não podem ser punidos. Porém, não porque, em decisões independentes, preservam o regime democrático. Mesmo sabendo disso, faz parte do jogo alimentar a rede de ódio. Ao mesmo tempo, numa velha tática, mantém o Governo em posição de ataque. E vai trabalhando sua campanha no espaço que lhe sobra entre os ataques e os medos. É sempre um protagonista com suas redes criminosas, segundo informa a Polícia Federal.
O raciocínio é simples e ao mesmo tempo confuso. Se cessarem os ataques e as crises fabricadas, o cidadão pode lembrar, por exemplo, da inflação, das mortes com a Covid-19, o desemprego, a violência, a fome, das maracutaias descobertas com a CPI, dentre outros temas que o faz cair nas pesquisas. Em contraposição, a ministra Carmem Lúcia, interpretando simplesmente a Constituição, disse claramente que as Forças Armadas não representam um poder à parte e que o artigo segundo da Constituição estabelece três Poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo. O que quero dizer, por fim, é que a estratégia bolsonarista precisa ser compreendida. Não pode desarrumar a cabeça dos democratas e muito menos trazer para o cenário o medo, que é o objetivo da estratégia golpista.
Até a próxima crise. Com muita lucidez.