Marilene, que preside a Academia Cachoeirense de Letras com a vibração que lhe é peculiar, lançou a ideia de um corredor cultural na Rua 25 de março. Aliás, com uma justificativa própria que exigem os projetos de uma maneira geral. Não é preciso dizer, por óbvio, que Rubem e Newton Braga são as expressões maiores desse, digamos, corredor. Isso, por óbvio, sem demérito para qualquer outro morador. Todos fazem jus a essa homenagem. Tal assunto, inclusive, pode ser objeto de debate no seio da Academia, já que o mês de dezembro marcará um encontro entre os acadêmicos, pós -pandemia. A propósito do corredor cultural, lembro-me que, no primeiro mandato do prefeito Valadão, esboçamos um criterioso anteprojeto-projeto que foi entregue, em mãos, ao cantor Roberto Carlos. Previa também um corredor cultural, que começava na pracinha Pedro Cuevas Junior e rematava na própria cada do cantor. Velhos prédios seriam transformados em cinemateca, cineclube, escolas de arte, teatro, dentre outras atividades. Pois bem. O desdobramento dos contatos com RC se encerrou no momento em que haveria necessidade de desapropriação de imóveis. Ele era contra qualquer tipo de confronto com moradores. Tenho cópias até hoje dos projetos, mas, feliz ou infelizmente, ficaram no arquivo das ideais não concretizadas.
Àquela época mostrei o projeto a Rubem Braga. Diante dos fatos, Rubem sugeriu a desapropriação do então – e desativado – cine teatro Broadway. Com o prestígio que desfrutava, mandou a Cachoeiro o famoso Gianni Rato. Era um diretor, cenógrafo, iluminador, figurista, escritor e ator italiano. Veio ao Brasil em 1954, a convite de Maria Della Costa para dirigir um espetáculo e aqui ficou. Depois de uma análise paciente, sugeriu o Broadway como a solução mais adequada para o teatro. Desentendimentos políticos e administrativos acabaram por arquivar o projeto. Infelizmente. De importante ficaram a Casa dos Braga e a Casa da Memória, aliás, esta era uma ideia importada da estada em Curitiba. Assim também como o projeto “Pintando na Praça”, acompanhado dos regionais e músicos da cidade. Este projeto teve a participação da então secretária de Educação, Sonia Coelho e as professoras da SEDU. Afinal, a ideia de Marilene me trouxe, dentre tantas, essas recordações. Mais ou menos como no livro de Chico Buarque, recentemente lançado, no qual ele sai pelas ruas do Rio, nas tardes vazias, em busca de sonhos não materializados. Afinal, não custa lembrar uma frase de Stendhal: “As menores coisas bastam, porque tudo é signo em amor”.