Confesso, é muito triste passar pela cidade e assistir a filas intermináveis de pessoas em busca de testes. Se por um lado é bom que as pessoas se cuidem e cuidem dos outros, a pandemia tem trazido pânico e depressão. Mas, deixa eu mudar de assunto. Sei que esta revista não cuida de política-partidária. De vez em quando, porém, aplico um drible no Júnior, nosso grande Diretor. Não digo isso visando a qualquer propaganda de candidato, em absoluto, mas o exercício à crítica político-social. Exemplifico. Muita gente está curiosa e ansiosa por uma terceira via para presidente da República. Nem Lula, nem Bolsonaro. Mas, Moro, Ciro Gomes, Simone Tebet? A curiosidade é grande. O jornalista Thiago Prado me aponta um fato mais que curioso. Diria até que é inédito: nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República é quase impossível uma terceira via romper, até agora, a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro. Ou seja: é a primeira vez em oito eleições que o líder e o segundo colocado chegam ao ano da disputa escolhidos por metade da população no chamado voto espontâneo.
Na pesquisa, voto espontâneo, como todos sabem, é aquele voto em que o entrevistado diz quem prefere sem ser apresentado a qualquer nome previamente. Explicando ainda melhor. Basta que se diga, como reconhece Mauro Paulino, diretor do Datafolha, que sua última pesquisa, em dezembro, o Instituto aferiu que Lula tem 32% das intenções de voto contra 18% de Bolsonaro nesse item do questionário. A pergunta espontânea sempre precede a estimulada, quando o eleitor aponta o seu preferido vendo uma cartela com os nomes dos candidatos. A soma de 50% dos índices do petista e do presidente está entre 20 e 30 pontos percentuais acima do total alcançado pelos três mais bem colocados nas corridas ao Planalto de 1989 até hoje.
Estou falando de pesquisa e não de preferência, é bom dizer. Isso, segundo o diretor, “é um sinal de voto cristalizado de ambos. Tem que acontecer algo muito forte na opinião pública para o cenário se alterar”. Quero dizer, sem qualquer conotação ideológica, que esse pessoal que revela tais fatos representa o que há de mais seguro para quem procura antecipar resultado de eleição. Velho e experiente deputado não acredita nos fatos narrados, pois defende a tese de que a eleição se decide nos dois últimos dias. Será, por exemplo, que ex-Ministro Moro virará o jogo nesse prazo? Desta feita vou discordar do meu amigo deputado. Os fatos estão a replicar sua tese. Votos de Lula e Bolsonaro estão cristalizados pela espontaneidade, mesmo que não se queira. Claro que estamos no início do ano eleitoral, mas hoje a situação historicamente é esta. Pesquisa hoje é ciência.