A última coisa que se pensa aqui nesta coluna é pressagiar sobre resultados das eleições. Nem mesmo as pesquisas – embora cheguem bem perto - podem ter essa presunção, sobretudo em face das mudanças vertiginosas diárias no cenário econômico-social do país. Veja só. Pelos cálculos da Tullett Prebon Brasil a perda do salário mínimo ao final do governo será de 1,7%. Isso, se a inflação não acelerar mais do que o previsto pelo mercado no Boletim Focus, do Banco Central, base das projeções da corretora. As previsões vêm sendo revisadas para cima há 16 semanas. O piso salarial cairá de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022, descontada a inflação. Claro que a inflação é muito mais severa para os que ganham menos. Em fevereiro, segundo o Ipea, para as famílias de renda mais baixa (até R$ 1.808,70), a inflação acumulada em 12 meses era de 10,9, para os de renda mais alta (R$ 17.764,00) era de 9,7%. Para onde vão esses eleitores
Bem, até agora, aparentemente, só falei de números. Me pergunto: caberia isso numa crônica? Confesso, acho que estou meio confuso com a situação do país. Mas, dentro desses números, o país mostra a sua cara. Olha que semana passada assisti a um episódio que me fez reviver, vagamente, a campanha pelas Diretas-Já. A mobilização dos jovens para o primeiro voto, realizada por artistas brasileiros com apoio de Leonardo DiCaprio. Só não viu quem não quis. O ator Leonardo DiCaprio voltou a fazer campanha para incentivo à emissão do título de eleitor por jovens brasileiros de 16 e 17 anos. O movimento ganhou força desde que artistas, times de futebol e políticos passaram a usar as redes sociais para falar sobre a importância do voto nas eleições de outubro. Em um post em português, o norte-americano chamou as pessoas que estão ajudando os jovens a tirarem o título de eleitor de “heróis da democracia”. Resultado: a Justiça Eleitoral informou que mais de 2 milhões de jovens de 16 e 17 anos se inscreveram entre janeiro e abril de 2022 para votar nas eleições de outubro.
Ora, quem já viveu história parecida, no passado, sabe a importância desse movimento. Está intimamente ligado às escolhas nas próximas eleições. Para mim, devo confessar, foi o episódio mais importante que aconteceu até agora. Isso porque lança uma âncora para um passado que já vivi. Conto. Aqui mesmo, em Cachoeiro, Hélio Carlos Manhães perdia fragorosamente a eleição para prefeito – àquela época com cédula – para Alício Franco, apoiado pelo então prefeito Ferraço (a todo vapor, logo depois da construção da Beira-Rio). Os votos dos jovens eram computados, na sequência do número do título, ao final. A reviravolta mais significativa vivida pela população: Hélio prefeito, eleito pelo voto da juventude. Não seria exagero dizer que foi o acontecimento mais emocionante de nossa história política. Vale lembrar.