Crônicas
Crônica de tantas saudades
2022-08-22 05:05:19

Ainda me recuperando das emoções profundas da Festa, quando um leitor, descontente, me chama atenção com os temas que ele considera nostálgicos lançados, nos últimos dias, aqui neste espaço. Diz mais: que a ele nada importa as sentimento de que se fez o meu passado. Se referia, por certo, à Festa de Cachoeiro. Fiquei pensando: logo agora que recebo o título de “Cachoeirense Presente” e a “Comenda Newton Braga”. Não compreende ele que eu seja, aos olhos dele, em eco de pretéritos fantasmas que a mão do tempo já aplacou. Em suma: sou um saudosista com outroras de minha vida. Até parece que, um dia, ele não terá passado, também. Afinal, todos passaremos. Até porque que não pretendo, nem posso ser outra pessoa, além de mim mesmo e porque cultivo justamente para, com elas, sobreviver, é que dedico ao meu amargo leitor este canto. Que não daria eu pela memória dos dribles de Alcenir – o maior de todos os atacantes do Estrela e do Cachoeiro? Ele produzia os dribles mais singelos que já conheci. Driblava – como dizia o mestre Armando Nogueira – com naturalidade: driblava sem ênfases.

Que não daria eu pelas aulas de inglês no Liceu, seja pela bela professora de inglês, Eda Zipinotti, uma artista de cinema, que caminhava elegantemente pela sala de aula levantando suspiros de todos os alunos, com seu inglês primoroso?

Que não daria eu para ouvir os discursos de Hélio Carlos Manhães levantando os assistentes dos comícios pelos bairros da cidade nos momentos das lutas contra a ditadura militar?
Que não daria eu para encontrar, andando pelas ruas da cidade, seu Zezinho, que me conduziria até Sumaré para treinar no seu Infantil, junto com Lominha, Maizé, Batata, Cacau? Que não daria eu para assistir, em sessão contínua, um filme no Broadway, do velho Abraão, o cineteatro mais importante do mundo. Se possível acompanhado da namorada, comendo pipoca?

Que não daria eu pela memória das conversas nos bancos da Praça Jerônimo Monteiro, animadas por Hélio Coelho? Que não daria eu pelas minhas gazetas, quando trocava, sem qualquer culpa, a aridez da raiz quadrada por uma pelada, às escondidas, no pátio do Liceu para depois ser chamado no Gabinete pelo inspetor Zé Coutinho?

Não meu caro leitor, tudo que restou do passado perdura em mim. Não se desfez. Haverá de transcender, como uma dádiva do tempo, de cujos mistérios somos feitos. Aliás, como rezou Newton Braga. Lá de 1942. Prefeito Victor Coelho prossiga com nossas festas… Mesmo magoando um só cachoeirense. É só um…

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