O cheiro de golpe está espargindo pelo país. Um grupo de empresários bolsonarista foi alvo de buscas e apreensões da Policia Federal por suspeita de compartilhar mensagens golpistas em um aplicativo de conversa. A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre Moraes. Tudo isso depois da entrevista do presidente Bolsonaro à TV Globo, no horário nobre do Jornal Nacional, quando os ânimos pareciam ter baixado a temperatura. Qual o quê...
Sobre a entrevista. A grande verdade: o feito olímpico do presidente Bolsonaro, na entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, na segunda-feira (dia 22), foi se sustentar quase sereno. Respondeu às perguntas mantendo, digamos, um postura de quem decorou toda a colinha produzida por sua equipe, preservando, afinal, o set intacto, sem qualquer avaria. Entendo, em princípio, que nada mudou. Quem vota nele, continuará votando. Quem tem outro candidato, não foi apanhado pelas mentiras e sofismas nas quais montou suas respostas. No entanto, abriu para os telespectadores e para a própria televisão a oportunidade de checar tudo que disse.
Era melhor ter esquecido tudo. A todo momento é lançada no ar a patética imagem dele imitando uma pessoa, apanhada pela Covid, buscando oxigênio para respirar, em Manaus. Como se sabe as pessoas foram socorridas pelo governador de São Paulo, João Dória, que salvou a pátria na pandemia. E a imagem é chocante. Acentua a mentira. Do mesmo jeito, a reprodução de que ele afirmou que a Covid era apenas uma gripezinha. Ou xingando o ministro Alexandre Câmara de canalha. Ou ainda indicando o tratamento precoce, repugnado pela ciência.
A impressão de serenidade que passou para as pessoas, num primeiro momento, sugere que ele teria subido sua pontuação nas pesquisas. É pagar pra ver. Só que, como disse, a sua assessoria de marketing, primariamente, se envolveu só com a busca de equilíbrio do presidente, esqueceu que as imagens ficam gravadas. Abriu um arsenal enorme de artilharia não só para as tvs, redes, todos os meios de comunicação, e, o que é pior, para os adversários. Não esquecendo que amanhã, sexta-feira, os programas eleitorais estarão no ar.
O presidente caiu na armadilha do jornalista Willian Bonner. Foi-lhe perguntado se fosse derrotado nas eleições, aceitaria o resultado sem tentar um golpe contra as instituições. Meio entre os dentes, assegurou que "se as eleições forem limpas, sim". Também atribuiu às Forças Armadas um poder sancionador que, absolutamente, não existe na Constituição. Ora, um autoritário acredita que a liberdade é secundária à ordem social e que a ordem deve emanar de uma pessoa. Assim, entre "tapas e beijos", chegaremos à eleição.