O velho Tancredo Neves, que conhecia tudo de política, dizia - e que isso sirva de lição pra todos nós - que não são as pessoas que brigam, mas as ideias. Acrescentava, porém, que a esperteza quando é demais come o dono. Mas, como aplicar isso à política municipal, mais especificamente, sobre as futuras eleições para prefeito? Os deputados Alan Ferreira e Bruno Rezende e, também, Diego Libardi - este já foi candidato a prefeito -  propuseram o seguinte: "quem estiver mais bem colocado na pesquisa eleitoral será o candidato a prefeito".

Aparentemente, um acordo democrático e que, obviamente, facilita a tomada de decisão. Visivelmente ficaria até mais cômodo para o prefeito Victor caso fosse o candidato escolhido dessa forma.  Mas, para quem conhece o mínimo de lógica ou de esperteza, verificará que, além desse acordo excluir o prefeito Victor Coelho do jogo, inclui o seu adversário político Diego Libardi, que, na campanha, teceu duras críticas à administração municipal. Quer dizer, minimamente, que essa proposta pretende criar um entrechoque entre o prefeito e o governador Renato. Isto porque - e isso é de uma obviedade singular -  naturalmente transfere a escolha para o governador, tirando o prefeito Victor do jogo. 

Tem mais. Além de empurrar Libardi - se for o vencedor -  goela abaixo do prefeito, que vive seus melhores momentos. Exclui também Lorena Vasques, que vem-se revelando uma excelente secretária de Obras, inaugurando obras por atacado.  Só não salta como absurda a proposta, porque sua engenhosidade é revestida de um verniz democrático. Mas favorece um candidato só e que tentou, depois de muitas críticas, se aproximar de Victor, após um dramático rompimento com Ferraço.  Ferraço quer ver o diabo mas não quer ver Diego.  Mas Victor não é bobo. Presume-se que não levará bola nas costas. Matará no peito, e vai olhar pra frente.  A jogada é simplória para um político   já com dois mandatos de prefeito.  Victor aprendeu a falar só na hora certa.

Por outro lado, nos bastidores, há uma sutil aproximação entre Ferraço- Norma com o prefeito Victor. Um dos motivos, segundo se especula, é que estaria pairando uma indignação sobre a liberação das emendas parlamentares para construção do Hospital do Câncer.  Soou, para o casal, como uma certa injustiça pela falta de reconhecimento à    então deputada Norma pelo seu empenho na liberação das emendas parlamentares relativas ao Hospital. Aliás, tal fato já foi motivo de pronunciamento do deputado Ferraço na Assembleia, em tom bastante enfático e raivoso.

Por outro lado, embora seja o mais discreto possível, o prefeito Victor Coelho ainda não se manifestou claramente sobre seu candidato ou candidata à sucessão, mas fica evidente a proeminência da secretária Lorena. Ela está passando em todos os testes a que está sendo submetida. Creio que - se não ficou evidente ainda - há uma tentativa de criar um hiato entre o governador Renato e Victor, fundamentalmente envolvendo a escolha da candidata à sucessão do prefeito.  Mas, isso, dentro do mais elementar princípio de lógica, é quase impossível.  Renato saiu de Castelo mas sabe olhar pra o futuro. E Victor é um parceiro exemplar pra ele, principalmente o momento em que vive.

No final de semana todos os candidatos a prefeito marcaram presença na feijoada da revista Leia. O que não faltou foi cabala de votos. O que representa dizer, a rigor, que a campanha já começou em nossa cidade. O prefeito Victor, que esteve presente com a primeira dama, se comportou como um magistrado. Jornalista algum tirou qualquer pronunciamento dele sobre candidatos à sua sucessão, mas não pode esconder que há um caminho traçado para uma candidatura a deputado federal. E, para tanto, precisa eleger um prefeito de sua extrema confiança. Ele sabe, mesmo em silêncio, com quem está lidando. E como sabe.