Por Wilson Márcio Depes

De minha janela de pensar vejo, diariamente, como se fosse um passarinho, aquela mulher subindo o morro da Santa Casa. Vem de longe; vem de Oliveira, Minas Gerais. Oliveira é um município brasileiro do estado de Minas Gerais, localizado a 150 quilômetros a sudoeste de Belo Horizonte, que possui 41.907 habitantes, segundo as últimas estimativas do IBGE. Haveria nome de lugar mais adequado para nascer uma santa? A oliveira é, pela primeira vez, mencionada em Gn 8.11, quando a pomba voltou para a arca de Noé com um ramo daquela árvore. Havia na Terra Santa muitas oliveiras, quando os israelitas tomaram posse dela. Seu nome: Irmã Maria Joana Otilia. É fluente no falar. Cada palavra é cercada de suavidade, doçura, e uma humildade que resplandece como um Sol que acaricia o mar no seu poente. De sua vida tão rica de amor ao próximo, faz uma síntese: “Pega a Cruz e segue”. Esse é seu desiderato, seu propósito. É sua vida.

Nos 50 anos de Santa Casa disseminou os 10 mandamentos por onde passou, com seus gestos e com seu viver. A dor que tenta aplacar ou o carinho que entregou ou distribuiu estão registrados por todos, no desencanto do cotidiano, sem distinção entre humildes ou privilegiados. Curioso é que tudo começou quando seu pai quis saber: “-Vai aonde?” “- Vou à missa”. “- Vai à missa, mas volta”. Voltou querendo ser freira. Em 1960 recebeu o hábito. E assim foi. Preparou seu enxoval e mergulhou nesse mundo de bondade, benevolência e magnanimidade. Quero estender mais a conversa, mas ela me diz: “gente da roça é rápida e só aceita um cafezinho”. Volta para seu lar, no Cristo Rei, onde mora “com o necessário para ser feliz”. És, minha cara amiga, razão para continuar a vida, fonte do que há de mais puro; dom do amor. Vendo-a assim, tão suave e altiva, lembrei-me da poesia de Thiago de Mello: “O corpo é um caminho:ponte, e neste efêmero abraço/busco transpor o abismo”. Abraço-a, carinhosamente, e mergulho nesse carinho. Vejo-a, em seus passos calmos, como se fosse um pequeno passarinho, desaparecer entre as árvores, as flores e os pássaros. Lá vai a Irmã Otilia, lição de esperança.