Coisa estranha esse sumiço irresponsável do presidente Bolsonaro. Afinal, foi eleito para governar o país e não para fugir das irresponsabilidades cometidas na sua administração. Chafurdou-se no Palácio, num silêncio assustador, marcando um tempo inusitado na história do país. Conta-me um amigo que, no feriadão, foi a uma praia de nosso estado com intuito de comprar um apartamento. Resultado: o corretor viajara a Brasília a fim de participar de uma manifestação em busca de que a eleição seja anulada. Ou, na pior das hipóteses, em favor de um golpe militar.
Resultado: o comprador trocou de corretor e adquiriu o ambicionado apartamento. A imagem é adequada para o país. Não custa aqui lembrar Guimarães Rosa, em "Grande Sertão Veredas": "O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."A justificativa do sumiço, segundo o vice Hamilton Mourão, é que o presidente está com uma ferida na perna - erisipela - que o impede de colocar uma calça. Sem aparições públicas há duas semanas, Bolsonaro também deixou de participar do encontro da cúpula do G20, em Bali, na Indonésia, que reuniu representantes das 20 maiores economias do mundo. O presidente não justificou a ausência e, de acordo com o Itamaraty, a delegação brasileira foi chefiada pelo ministros das relações exteriores, Carlos França.
Também não compareceu à COP27, no Egito. No evento o presidente eleito Lula, que viajou a convite do presidente do país, sugeriu no encontro uma aliança global para combater a fome em todo o mundo. O encontro, pelo menos a priori, foi muito importante para o país, sobretudo pela promessa de agir, com todo o rigor, contra o desmatamento, que é uma chaga deixada por Bolsonaro.
Isso, aliás, todo mundo já sabe. Porém, bola está rolando aqui no Brasil e a transição vem sendo feita junto ao Congresso para edição de uma PEC a fim de compatibilizar os desarranjos orçamentários. Porém, claro que é momento fundamental em busca de novas relações políticas. E Bolsonaro, mesmo fora do campo, está no banco de reservas tramando seu futuro, possivelmente presidente do PL, convivendo com um bom "antidepressivo", isto é, a reunião de grupos fanáticos nas ruas em busca de um golpe.
Ora, é claro que não aceitou a derrota. E a oposição, que se prepare Lula e seus companheiros, será de ódio. Porém, Lula demonstrou num veemente discurso na COP27 no sentido de um combate ao desmatamento, chamando de emergência climática, transformando, mundialmente, em tema central. Defendeu os indígenas, propôs aliança mundial contra a fome, uma parceria com o agronegócio, fez cobranças aos países ricos, convidou a COP para vir para o Brasil e indicou que pode vir a criar uma coordenação para o tema.
Em síntese, a crítica mundial diz que, num discurso de dez minutos, Lula fez mais pelo meio ambiente do que Bolsonaro em toda a sua vida. Essas relações mundiais, que enfrentam a "direita" no mundo, abrem importantes caminhos para o país. Sendo assim, os políticos que possuem pretensões futuras, precisam estar atentos, deixando de lado o bolsonarismo cego e inconsequente. Como diz o pessoal aqui no escritório: "a fila anda".
O governador Casagrande, que não é bobo nem nada, se fez presente junto à comissão de transição, reatando velhas amizades políticas, o que os prefeitos deveriam estar fazendo também. Acho que no navio cabe todo mundo que não ficou, burramente, refém de bolsonarismo.
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